terça-feira, 4 de outubro de 2011

Bons Exemplos Brasileiros


A aluna Rayana Borba nos encaminhou o texto abaixo, que é um excelente exemplo de gastronomia sutentável realizada no Brasil. Este texto contribui com  nossa discussão iniciada ontem, através da publicação da experiencia Peruana.
Vale a pena a leitura, para descobrirmos bons exemplos da nossa terra!


A história toda vem das dificuldades que a  Colônia Agrícola Japonesa de Santa Cruz, região rural do município do Rio de Janeiro, enfrenta no cultivo do aipim. A colônia é famosa por produzir o melhor aipim do Estado. Mas, devido ao crescimento industrial desordenado e insustentável, o local pode deixar de produzir o tradicional aipim da terra preta de Santa Cruz. A cor da terra, rica em material orgânico, é um dos fatores que diferenciam o aipim de outras procedências. Veja abaixo a história da descoberta do baby aipim na colônia e de como um rebotalho pode na verdade ser um produto de alto valor agregado. É um exemplo de como a gastronomia pode mudar a vida das pessoas. O texto veio da assessoria de imprensa Malagueta. Agradecemos a eles pela oportunidade de dividir a história com nossos leitores:
Dezenove famílias fazem parte da Colônia, criada na década de 30 por Getúlio Vargas. Em 1938, chegaram os primeiros imigrantes japoneses. Eles vieram de Mogi das Cruzes, interior do Estado de São Paulo, para implantar novas experiências em agricultura. O projeto prosperou e hoje os principais produtos comercializados, além do aipim, são: coco verde, quiabo e caqui. Entretanto, os agricultores estão desistindo de cultivar a raiz, devido às constantes enchentes na região.
A principal reclamação do grupo está relacionada à instalação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em 2003.  Segundo relato dos produtores, a siderúrgica desviou o curso do Canal São Fernando, antigo canal de irrigação, com a função de receptação e escoamento das águas das áreas produtivas da colônia. O canal deságua na Baía de Sepetiba. O desvio para o Rio Guandu, realizado pela CSA, tem ocasionado o refluxo das águas para o  São Fernando nas cheias e também na maré alta.
Além das enchentes,  existem problemas nas estradas para o escoamento da produção agrícola. Em maio de 2011, a chef Teresa Corção, presidente do  Instituto Maniva, foi convidada pela Superintendência Federal de Agricultura do Rio de Janeiro para uma visita técnica à Colônia. A chef se surpreendeu com a qualidade do produto. E perguntou aos agricultores o que era a raiz menor no pé do aipim gigante, como é conhecido o da região de Santa Cruz. Teresa descobriu, então, o rebotalho ou refugo,   sobras do que é colhido e dado aos animais.
Resolveram tirar um pé mais jovem para me mostrar. Reparei pequenas raízes que ficavam junto às maiores. Quando disse que eram aquelas que eu queria para um teste na minha cozinha, eles acharam a maior graça: Esse menor é  dado aos animais, por falta mercado , descreveu Teresa, que apelidou o rebotalho de baby aipim e deu a ideia de comercializar para restaurantes em bandeija. Junto com a chef Flávia Quaresma tiveram a ideia de promover o novo produto descoberto como uma raiz colhida precocemente ou mini legume.
Com os exemplares que trouxe para seu restaurante, O Navegador, preparou um medalhão de carne de sol com o baby cozido, servido inteiro no prato.  Considerada a embaixadora da mandioca, ela  está engajada em projetos na área de cultura, agricultura e educação. Ao tomar conhecimento da situação,  logo se posicionou para defender o ingrediente.  O preço do aipim de Santa Cruz chega a ser 30% mais caro no Ceasa (Central de Abastecimento do Rio de Janeiro), e é o preferido dos feirantes, que reconhecem a qualidade. É o melhor do Rio de Janeiro, cultivado num terreno fertilíssimo, com características únicas, diz a chef .
O jovem agricultor Otávio Miyata é um dos entusiastas da tradição local. Ele é o único sucesso da comunidade, e  está disposto a não deixar morrer o cultivo do alimento que mantém a família. Alegra-nos saber que uma profissional renomada de gastronomia se preocupe tanto com a agricultura, com os agricultores e toda a cultura envolvida, destaca Miyata. Já está em discussão entre os colonos e a  Superintendência o encaminhamento da solicitação de Indicação Geográfica (IG) ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) para o aipim da região. A produção anual da colônia está em torno de 36 mil caixas por ano.
A aliança entre cozinheiros e agricultores já rendeu frutos. O grupo Ecochefs, conselheiros do Maniva, já utilizam a iguaria em seus restaurantes ou em festivais e estão testando diversas utilizações para o produto recém-descoberto. Prova de que a cadeia produtiva precisa estar conectada para mover-se de forma sustentável. As encomendas não cessam de chegar à pacata Colônia que desconhecia outras raízes de seu famoso aipim. Chefs de toda a cidade estão curiosos para ver, provar e criar receitas com a colheita precoce, tendência mundial da gastronomia. Enquanto aguardam as providências da siderúrgica semeiam uma nova chance de prolongar a vida da colônia.  Este é o melhor local de cultivo do aipim no nosso município, talvez do nosso Estado. Não podemos deixar que ela acabe, finaliza a presidente do Maniva.
Postado por: Rodrigo Uchoa em :
http://www.valor.com.br/cultura/blue-chip/1022148/viva-o-baby-aipim



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